A produção de um barril de petróleo em Angola custa menos de 40 dólares na maior parte dos casos, mesmo em águas profundas, disse à Lusa o antigo vice-presidente da francesa Total no país, Jorge Abreu.
“O s custos operacionais, mesmo nos projectos de águas profundas em Angola, estão abaixo dos 40 dólares por barril”, disse Jorge Abreu, salientando que “a margem de lucro reduziu-se mas ainda está acima do ‘break-even’ na maior parte dos casos, principalmente nos mais importantes, como nos blocos 15, 17 e nos blocos 0 e 14, operados pela Chevron.
A redução dos preços internacionais do petróleo lançou uma onda de renovação de procedimentos na indústria petrolífera, apostada em fazer descer os custos de produção para compensar a descida na receita e assim manter os resultados e os dividendos a distribuir pelos accionistas.
Para Jorge Abreu, um consultor privado que está há quase 40 anos no sector do petróleo em Angola, “há duas grandes rubricas nos orçamentos das petrolíferas, sendo uma as despesas operatórias quotidianas para projectos em produção, e outra os novos investimentos”.
No que diz respeito às despesas do dia-a-dia, as petrolíferas têm apostado em “adaptar o quadro orgânico à nova realidade”, promovendo a redução dos contratados, “o que evita anunciar despedimentos e reduz os custos de funcionamento”.
O pessoal, disse, vale 60% das despesas de operação, e 25 a 40% dos trabalhadores das petrolíferas são prestadores de serviços, embora integrem o quadro orgânico, e são estes os primeiros sacrificados.
A segunda vertente tem a ver com a prestação de serviços em geral, e neste âmbito o objectivo é “renegociar com os prestadores de serviços para baixarem as tarifas e os custos das prestações de serviços, das inspecções e da manutenção, reduzindo estas práticas ao mínimo indispensável”.
Outra das iniciativas de poupança transversais à indústria é a relocalização dos expatriados: “Estão a tentar mover para as sedes parte da actividade que se fazia nas filiais”, diz Jorge Abreu, apontando o exemplo da Total, que transferiu grande parte da equipa de geociências que estava em Angola para França, e a BP, que enviou uma parte dos trabalhadores para Inglaterra”.
A poupança com as operações diárias, no entanto, não chega para equilibrar o orçamento face à descida do preço do petróleo para cerca de metade do que estava no verão passado, e por isso é necessário mexer também nos investimentos, a segunda grande rubrica de despesa neste sector.
“Os critérios de aprovação de novos investimentos são mais rigorosos, porque há dois ou três anos calculavam o preço do petróleo a 80 e 90 dólares, e depois ainda implementavam uma sensibilidade do petróleo a 60 dólares, mas hoje os projectos são calculados a 50 ou 60 com testes de sensibilidade a 40 dólares por barril”, explica Jorge Abreu, o que torna os projectos mais difíceis de aprovar tendo em conta o retorno calculado.
A consequência é que “muitos projectos foram suspensos ou adiados, como por exemplo o Chissonga, da Mersk, no bloco 16, porque a rentabilidade possível nos critérios actuais não corresponde às taxas de retorno de dois dígitos”, explica o consultor.
O ‘novo normal’ na indústria petrolífera passa pela baixa da actividade, que tem um impacto nas tarifas de engenharia, de construção naval e de instalação, diz, dando como exemplo o aluguer das sondas de perfuração, que “há dois anos tinham uma tarifa diária de 600 ou 700 mil dólares, e hoje dia aceitam contratos de 300 mil dólares diários”.
Tal como a Galp no Brasil, também as operadoras em Angola “só apostam nas coisas mais seguras e, por outro lado, usam a situação financeira para tentar renegociar com os países hóspedes os contratos de exploração e produção de petróleo para melhorar as condições fiscais e financeiras desses contratos para melhorar a rentabilidade”.